sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Piratas da Antártica: Um porco ao mar

Texto: Felipe Pahor
Fotos e alterações: Paulo Cesar

Todos sabem que o futebol não é fácil. Nessas águas, por mais que você siga a bússola, encontrará desafios duros e difíceis de serem superados: são tempestades, correntes marítimas, animais selvagens, etc . É necessário ter um capitão de respeito e inteligência, se possível sem papagaios para opinar, e homens fortes e guerreiros que estejam dispostos a correr riscos para buscar seus tesouros. Analisando o atual navio alviverde, as perspectivas de seu povo são pouco otimistas.

Os nostálgicos anciãos do vilarejo devem se lembrar de épocas mais fáceis da academia de Ademir da Guia dos anos 60/70, única equipe paulista que realmente fazia frente ao Santos de Pelé e os mais jovens, como os da minha idade, lembram-se do navio da Parmalat na década de 90.

A academia foi campeã do Rio-São Paulo de 65, da Taça do Brasil, bicampeã do Robertão (na época o Brasileirão do país), três vezes campeã paulista (sendo uma invicta), bicampeã brasileira, três vezes campeã do tradicional Trófeu Ramón de Carranza. A equipe chegou a representar a seleção brasileira e jogou o fino da bola como se costuma dizer.



Já o time da Parmalat que contava com jogadores como Rivaldo, Roberto Carlos, Evair, Edmundo e vários outros craques assegurou para a vasta sala de troféus do clube o bicampeonato brasileiro, o tricampeonato paulista, uma copa do Brasil, um Rio-São Paulo, uma Libertadores, Mercosul, entre outros títulos. O Palmeiras chegou a ser proclamado o grande campeão do século XX do futebol brasileiro pela Federação Paulista e importantes veículos de comunicação.

O campeão do século XX, numa espécie de maldição dos antigos deuses e demônios dos mares, somou no século XXI uma queda para série B, retornando logo em seguida com o título da divisão inferior nacional, um campeonato paulista em 2008 e mais nada. Certamente ocupa o posto de quarta força paulista desde a virada do século e a busca pelo tesouro perdido mostra-se a léguas de distância.



A preocupação da torcida palestrina aumentou, e muito, após a última quarta-feira quando o time recebeu o São Caetano, que já não é grande coisa há uns cinco anos pelo menos, e tomou um sonoro 4-1. É óbvio que o resultado não foi o único causador de tanta discórdia no Palestra, porém foi a última gota de um copo que já estava transbordando. Para variar um pouco, o dia seguinte foi muito especulado por toda a imprensa e a torcida, inclusive as rivais, e foi decidida a saída de Muricy Ramalho do comando técnico e de Toninho Cecílio da gerência de futebol do clube.



A decisão tomada nos permite duas perspectivas de análise. A primeira consiste na manutenção da cultura do futebol nacional de que quando as coisas não estão bem, o técnico cai, talvez apenas para mostrar serviço e uma atitude de pulso por parte da diretoria. A segunda de que as decisões foram tomadas considerando uma análise estatística do trabalho dos dois profissionais que, mesmo com todas as limitações, foi fraco para o tamanho do Palmeiras.

Honestamente, dando uma de comentarista, prefiro seguir a primeira linha de raciocínio. A diretoria do Palmeiras trouxe ainda no primeiro turno do Brasileirão de 2009 o professor Muricy e o avante Wagner Love, duas apostas ousadas e que muitos acreditavam que seriam suficientes para confirmar o título nacional do líder da competição naquele momento. Entretanto, a navegação passou por grandes tormentas pelos oceanos do futebol e sofreu com marujos impossibilitados de garantir os rumos do navio. O time ficou sem o título e até sem a participação na Libertadores, provocando a revolta de seu povoado que criou um clima chato com os marujos, especialmente o amoroso Wagner que logo juntou seus trapos e partiu para praias mais agradáveis no Rio de Janeiro. Atitude estúpida e irracional da torcida.

Vale lembrar, que dentre os últimos técnicos que passaram pelo time do Parque Antártica, Muricy Ramalho é o que tem o pior aproveitamento deles, com 49,1% de aproveitamento dos pontos disputados.



Segundo o diretor Gilberto Cipullo, o clube está sem dinheiro para investimentos e não pôde se reforçar como deveria, partindo na contramão de seus rivais que trouxeram jogadores de renome para a disputa da atual temporada. O time do Palmeiras chega a ser uma boa equipe, com dois ou três nomes acima da média, entretanto o elenco é fraco,fraco. O professor Muricy, por mais que tenha errado no comando técnico do Palmeiras muitas vezes limitando o time a jogadas áreas e muitos jogadores medianos como titulares, poucas opções tinha para enfrentar uma nova navegação segura e serena.

Com a demissão do antigo treinador, o clube busca no ex-marujo Antonio Carlos Zago, algoz do clube na quarta-feira, uma solução e bons rumos ao navio alviverde. O Palmeiras reinicia todo o processo de construção, porém no meio da temporada e insistindo no mesmo erro. Sem marujos, nenhum capitão faz milagre. A diretoria do clube parece estar conformada com a situação e não busca reforços, única saída para solucionar os problemas do time. O que muitos palmeirenses do vilarejo devem se perguntar é onde está a Traffic, que a cada ano diminui os investimentos do clube e por mais que seja parceira, parece estar cada vez mais distante e descompromissada com o time.

Talvez as intrigas políticas entre Belluzo e a alta cúpula do clube estejam atrapalhando e muito os rumos do Palmeiras dentro e fora de campo. O que mais se escuta na imprensa é um blá, blá, blá sobre conselheiros pedindo a cabeça do diretor de futebol, do técnico; oposição e situação que parecem se preocupar mais com a situação política de cada um do que com os resultados e a situação do clube.

O navio ainda não virou, mas parece que nem Zago, nem Jack Sparrow terão força suficiente para evitar novos micos e papagaiadas. Haja gim para entorpecer os palmeirenses que não terão muitos motivos para sorrir conforme o rumo de sua tripulação.

1 comentários:

Lena disse...

Infelizmente, bom texto. Com algumas ressalvas: não acho o elenco "fraco, fraco". É um elenco medíocre, mas tem bons nomes (Marcos, Maurício Ramos,Danilo, Pierre, Cleiton Xavier, Diego Souza). Figueroa e Armero acho jogadores razoáveis, mas que estão em má fase. Quanto aos reforços, acredito que 10 jogos numa temporada que o time todo está decadente, é pouco pra fazer uma boa definição. Jogadores da base como Gabriel Silva (principalmente!) e Joãozinho vêm como promessa, são novos. Esperar pra ver. Falta ataque. E não é culpa da torcida que o baladeiro foi pro RJ. Não honrou e usou ridicularmente a história da agressão (que tem outro lado não divulgado pela mídia, obviamente) para sair fora. Foi tarde! Maior problema é Cipullo e sua marionete chamada Belluzzo. Quanto à Traffic, enquanto Muricy estivesse como técnico, não iria investir nada, já tentou tirá-lo fora ano passado. Vamos ver agora como fica. E quanto ao Muricy, por mais que seja um dos melhores técnicos do país, não deu certo. Elenco limitado? Sim. Mas praticamente o mesmo que Luxemburgo levou à semi do Paulista e que Jorginho surpreendeu no início do Brasileiro. Por esse motivo, não vou cornetar o Antonio Carlos, vamos ver o que é capaz de fazer. Se Jorginho fez mágica, por que ele não faria? Dias melhores virão e VAI PALMEIRAS! Ps: Gambazinho, faltam 193 dias para o CENTENADA! Beijo =*

19 de fevereiro de 2010 às 20:20