terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Ponto de virada


Um bom roteiro possui vários elementos que devem estar definidos e resolvidos pelo autor: bons personagens com motivações e objetivos bem definidos, pontos de virada na história, conflitos, enredo, um bom desfecho...enfim, o básico. Podemos afirmar que o roteiro vascaíno teve um novo ponto de virada nesta semana. Nesta terça-feira, em São Januário, a chapa formada pelo ex-presidente charuteiro Eurico Miranda e Silvio Godoi obteve 93 votos contra 45 da chapa de Henrique Loureiro e o ex-mandatário Antonio Soares Calçada na eleição do Conselho de Beneméritos do clube.


Diariamente observamos os clubes e seus dirigentes anunciarem o desejo de trazer renovação, modernização e profissionalismo ao futebol brasileiro e as suas gestões nos clubes. O discurso pega bem, já que hoje as agremiações brasileiras devem impostos ao governo, possuem ações na justiça movidas por ex-jogadores e/ou funcionários, dívidas do tamanho de grandes empresas falidas, centros de treinamento sucateados, estádios ultrapassados, falcatruas com as receitas obtidas... enfim, a história todo mundo conhece. O difícil é colocar isso em prática.


O próprio time da Colina, destacado nesse texto, está na lista dos que estão mal na foto. O departamento jurídico do clube fez um levantamento e contabilizou 518 ações na justiça, sendo 286 trabalhistas, 59 tributárias, 131 cíveis e 42 fiscais. Segundo o último balanço do clube feito em 2009, o Vasco teria um saldo negativo de R$103 milhões devido às ações considerando inclusive as ainda não julgadas pela justiça brasileira. Muitas delas, ou todas, adquiridas por administrações anteriores um tanto quanto questionáveis.

O reflexo do calvário vascaíno foi a queda para a segunda divisão. Muitos culparam a administração do poderoso e folclórico Eurico Miranda, que, posteriormente, foi substituído pelo maior ídolo do clube, o craque e referência Roberto Dinamite.

O Vasco deu a volta por cima em 2009 dentro de campo: fez uma bela campanha na Copa do Brasil e venceu a série B. Subiu com dignidade e encheu a torcida de orgulho.


Agora resta saber se a torcida ficará feliz com a notícia destacada logo no início do texto. Algumas das funções mais importantes, a meu ver, do tal Conselho já citado são destacadas abaixo e estão no estatuto do clube:


CAPÍTULO X

DO CONSELHO DE BENEMÉRITOS

Art. 86º - O Conselho de Beneméritos, de caráter permanente, Poder Moderador do Clube, compõe-se dos sócios Grandes Beneméritos e Beneméritos, integrando-o, ainda, quando em exercício, o Presidente da Assembléia Geral, o Presidente do Conselho Deliberativo, o Presidente do Conselho Fiscal e o Presidente da Diretoria Administrativa.

Art. 87º - Compete ao Conselho Beneméritos:

I - Outorgar títulos de Grande Benemérito, expedindo os respectivos diplomas, e apresentar parecer relativo à outorga dos de Benemérito, Emérito e Honorário, observado o disposto nos parágrafos 1º e 2º do Artigo 12.

II - Exercer fiscalização direta sobre a administração do patrimônio social.

III - Sugerir e acompanhar iniciativas da Diretoria Administrativa julgadas de alto interesse para a vida do Clube, reunindo-se para esse fim a pedido de qualquer dos seus membros, feito ao respectivo Presidente, e opinar sobre assuntos de relevância sempre que solicitado pela Diretoria Administrativa.

IV - Opinar sobre flação ou desflação do Clube, sobre suas atividades e suas político-desportivas locais ou regionais.

V - Opinar sobre a revisão dos preços dos títulos de Sócio Proprietário, taxas e mensalidades, submetendo suas conclusões a apreciação do Conselho Deliberativo.

VI - Opinar sobre doações ou legados feitos ao Clube.

VII - Convocar, mediante solicitação prévia ao Presidente de Conselho Fiscal e ao Presidente da Diretoria, membros desses Poderes para o fim de prestar informes e esclarecimentos sobre matéria indicada na convocação.


Como se observa, o Conselho tem um poder razoável para opinar na vida do clube, fiscalizando e cobrando. A grande questão é..se um clube grande como o Vasco possui pessoas com tal poder por que a instituição sofreu tanto? Ou melhor, reformulando..será que o tal Conselho trabalhava movido pelo interesse e amor pelo Vasco, obrigação dos membros, ou por possíveis facilidades e/ou interesses políticos e/ou econômicos oferecidos pela gestão da época?

O fato é que o Vasco da Gama limpou o escritório da presidência, mas o pó voltou menos de dois anos depois de ter sido varrido para fora do clube. E voltou com voz ativa na presidência do Conselho até meados de 2013 com o apóio de membros ligados diretamente ao clube, comprovando que os únicos que sofrem com as decisões de poucos são os milhões de fanáticos torcedores.


É verdade que Eurico não retorna ao clube com o poder de antes, o de dono, rei, tirano ou simplesmente presidente, como prefirirem, mas o próprio Roberto Dinamite admite que o ex-mandatário terá voz ativa ecoando por São Januário e que ambos deverão conviver em harmônia pelo bem do Vasco, mesmo que existam diferenças políticas.



O retorno de Miranda à Colina certamente ocasionará uma divisão na vida política do Vasco, justamente em uma época que o clube busca paz e estabilidade para se consolidar novamente entre os grandes do país, lugar que merece ocupar por sua tradição, história e torcida. Outro ponto preocupante é que o clube ficou anos nas mãos do dirigente, acumulou problemas..e agora? Será que Eurico será coadjunvante ou briga para explodir o mocinho Dinamite e voltar ao papel de protagonista que tanto adora? Em breve nos cinemas, ou melhor, nos noticiários esportivos.







1 comentários:

felipe gomes disse...

Excelente texto, cara!
Mas parte desta visão "coronelista", já está enraigada em nossa sociedade.
Na política, no futebol, na escolha do sindico do prédio...
Já quanto ao Vasco, não vejo muita prospecção nem se elegem um novo "messias" para o clube.

abrs!!!!!

20 de janeiro de 2010 às 17:56