sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Cartão Vermelho para o Crack[E]


Enquanto me preparava para a maratona esportiva da quarta passada com Copa São Paulo, Carling Cup, Copa da Itália, NBA e Paulistão me deu vontade de tocar em um assunto meio delicado e que divide opiniões: o doping e suas punições. Na verdade essa é só a fachada da casa. Não sou engenheiro para projetar e construir nada, mas sei quando uma parede está torta. Bom, vamos começar e deixar para lá meus simbolismos desnecessários.


O Superior Tribunal de Justiça Desportiva, o famoso STJD, julgou o caso de Jobson, atacante que se destacou nas últimas rodadas do Brasileirão 2009 pelo Botafogo, pelo uso de cocaína. O atleta foi pego no tradicional exame antidoping realizado após as partidas da competição em duas ocasiões: 08 de novembro contra o Coritiba quando o Botafogo ganhou de 2-0 e em 06 de dezembro na vitória sobre o Palmeiras por 2-1. O atleta confessou que não usou cocaína e sim crack, droga derivada do famoso “pó argentino” que possui um poder de vício rápido e intenso. As leis mundiais antidoping prevêem que um atleta seja banido do esporte caso seja condenado duas vezes por uso de substância proibida, entretanto os auditores optaram pela suspensão do jogador por dois anos.



O futebol, como qualquer esporte, não pode ser associado ao uso de drogas, entretanto alguns julgamentos deveriam ter dois pesos e duas medidas. Uma coisa é um atleta usar uma substância com o objetivo de melhorar seu desempenho ou de mascarar outra substância que poderia ser acusada no exame antidoping e outra coisa é o mesmo atleta usar drogas sociais. Não estou aqui para defender o uso de drogas, ou para tirar a responsabilidade dos atos do atleta ou até repreender a imposição de punições pelos órgãos competentes, porém questiono se a decisão foi tomada para o bem do jogador e do esporte ou apenas para ecoar nos veículos de comunicação, aquela velha coisa de fazer algo para inglês ver.


A suspensão aplicada tem mais chances de levá-lo para o fundo do poço do que realmente ajudá-lo a superar seu vício e dar a volta por cima. Cada um supera seus problemas de uma forma: Alguns vão ao psicólogo, outros comem sorvete e assistem filmes, outros ligam para familiares e amigos e outros jogam boliche [?]. Um dependente químico em tese, e talvez na prática também, afogará suas mágoas e lágrimas nas mesmas drogas que tanto lhe prejudicaram. Trata-se de uma punição esportiva ao atleta e, indiretamente, uma punição ao homem.



Talvez a solução fosse a aplicação de uma suspensão com tempo indeterminado, mas associada a um tratamento da dependência do atleta com acompanhamento médico de profissionais ligados ao coerente Tribunal ou então à presente CBF. Após este acompanhamento os médicos teriam a autonomia de atestar a recuperação do homem, assim possibilitando a reintegração integral do atleta ao esporte e do cidadão a sociedade.


Resolvi comentar porque esta situação ultrapassa as esferas esportivas e alcança problemas sociais do país, este acostumado a ver, mas não enxergar, suas gerações atuais e futuras reféns do mundo das drogas e do crime.



O que mais ouvimos é a associação entre as palavras esporte, bem estar, saúde, inclusão social, cidadania, etc. Parece até hipocrisia e conversa pra boi dormir. O pior cego é aquele que não quer ver.

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